Olha, eu não entendo nada de moda, é fato. Mas a internet mostrou que qualquer pessoa com um teclado na mão pode emitir opiniões, certo? Vamos lá:
Toda (eu disse TODA) semana de moda no Brasil se repete exatamente a mesma ladainha: de que a gente não se valoriza e não tem identidade e blábláblá...
Vem o americano Michael Roberts assistir o Fashion Rio. Ai que legal! Ele é famoso, né? É do Vanity Fair, né? Daí o Michael Roberts fala que ficou "horrorizado com o esnobismo dos estilistas brasileiros com relação ao folclore, as etnias e a cultura locais". É mesmo? Não me lembro de ter visto nada folclórico ou étnico ou local no trabalho que ele faz quase todo mês aqui no Brasil. Michael Roberts está muito mais interessado em meninos de sunga do que em moda propriamente dita, não é mesmo?
Daí a Erika Palomino diz no twitter que é "uó abrir desfile no RJ com modela gringa. As modelos brasileiras arrasam! Falta de auto-estima/complexo de colonização". É isso mesmo, Erika! Não pode deixar. A gente só aplaude quando as modelos brasileiras abrem os desfiles de todas as grifes mundo afora, né? A gente adora, conta com orgulho, enchendo a boca que nós brasileiros arrasamos "lá fora". Que a modelo mais famosa e mais bem paga do mundo é brasileira. Que a segunda, a terceira e a quinquagésima também são! Falta de auto-estima em se tratando de modelos? Acho que não é bem o caso.
Quanto ao folclore, não me lembro de ter visto protestos por mais influência nativa nas semanas de moda americanas, italianas ou francesas. Todos os países têm o seu folclore. Mas a indústria da moda quer vender para o mundo todo, e dita o que é bacana para os países que vão consumir, seja a França, o Brasil ou a Rússia. As italianas não desfilam a tarantela, os americanos não desfilam os índios apaches o tempo todo e ninguém reclama.
O problema principal do Brasil é ter a imagem de lugar exótico para o resto do mundo (junto com a China, a Índia e a África). Ninguém de fora aceita vir ao país e se decepcionar com a imagem pré-fabricada de Carmen Miranda e carnaval. Mas a vida real de quase todos os brasileiros não é carnaval, nem praia todo dia, nem rede preguiçosa pra deitar.
Então, o imperialismo continua? Comprem as nossas criações globalizadas, por favor, afinal o consumo brasileiro está salvando o setor na Europa e nos EUA, mas não CRIEM nada globalizado, por favor. Façam o seu artesanato rudimentar pra gente continuar dizendo o quão exótica é a cultura de vocês.
Realmente não entendo nada de moda.
2 comentários:
Arrasou na análise. Não "guento" esse complexo do povo da muóda.
Contundente!
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